terça-feira, 17 de maio de 2016

GANCHO
      



Não sei contar os dias, quando nasci não tive oportunidade de conhecer meus pais, portanto não sou muito inteligente.
Pelo que ouço e vejo aprendi tudo que sei até hoje, sei ler e escrever, mas meu talento é segurar um extintor de incêndio. Sim, sim... pode parecer chato, mas com eles eu não me sinto sozinho.
Há um tempo atrás, uma das crianças que passam por aqui derrubou um amigo meu de muito tempo, seu nome era Theo. Vivia comigo fazia 7 anos, nós éramos bem próximos, sempre juntos, conversávamos bastante sobre o espaço onde vivemos, sobre as pessoas que vivem aqui, que são bem assustadoras para falar a verdade.
Theo viajou bastante, ele disse que foi até o último andar do prédio, disse até que me levaria lá qualquer dia. Uma pena que caiu, não sei se morreu, sei que se machucou bastante. Antes de o retirarem dali me disse que voltaria.
Passaram-se 8 meses após o acontecimento, não tive notícias, pelo que vejo humanos não se importam com objetos inúteis como nós. Estou sozinho, ouvindo segredos inúteis de pessoas inúteis e vendo coisas horríveis.
Não sei onde estou, não faço ideia, me trouxeram para cá em um caminhão, junto de muitos iguais a mim, todos foram para lugares diferentes, ou para pisos superiores ao meu, fiquei aqui, sozinho, agora nem mesmo com um extintor para conversar.
Sou um gancho, seguro extintores de incêndio, sou branco, bem desgastado por carregar vários amigos, todos morreram, foram usados, derrubados ou caíram por conta própria, aparentemente estou sozinho, esperando por um amigo, aceito qualquer um, nem que seja um humano, de verdade... QUALQUER UM.